sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Quebe? De arroz? De macaxeira?

Quibes, quebes, de arroz e de macaxeira comuns no Acre.



CELEBRAÇÕES, OFÍCIOS E MODOS DE FAZER

Quebe? De arroz? De macaxeira?


Estas são perguntas comuns quando um visitante inexperiente no assunto se depara com uma estufa quente, lotada destas iguarias fumaçantes em qualquer lanchonete do Acre.

Sob uma ótica mais conceitual não é, de pronto, muito fácil explicar as origens desses quitutes que só se vê, e saboreia, por aqui. Porém, eles se assemelham, e porque não dizer que, são da família do quibe árabe que é típico do Oriente Médio e considerado um prato nacional na Síria e no Líbano, mas também conhecido e apreciado em outros países como a África, Turquia e Armênia. Foram imigrantes destas regiões que difundiram a receita para o Brasil. Tanto que os quibes árabes, uma massa de carne, trigo tabule e um recheio de carne e ervas, pode ser encontrado em diversas lanchonetes e padarias de todo o país.

A partir daí é que a história vai ficando mais interessante, pois demonstra a capacidade de adaptar-se do ser humano; seja para garantir sua sobrevivência, ao passo que se apropria da receita que chega de longe e a adapta aos seus ingredientes mais típicos e, ou, também faz tudo isso com o intuito de agradar seu paladar “quente e úmido” de amazônico ocidental.

O Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural reconhece a riqueza e prevê um levantamento histórico minucioso sobre o modo de fazer o quibe ou quebe de arroz e de macaxeira.

Essas iguarias constituem, sem dúvida, um bem cultural tão rico que permeia os ofícios e modos de fazer, da nossa sociedade.

Importante também destacar que o que já foi ressignificado quando da adaptação feita a partir do que chega com o imigrante, passa também por alterações em seu modo de fazer dentro do próprio Estado, de acordo com o tempo e a localidade; em Tarauacá, por exemplo, já foi muito comum comer-se um “quebe” de arroz que não é frito nem possui formato alongado. Ao contrário, é redondo, passado na farofa de farinha de mandioca peneirada, fruto de uma mistura de óleo e colorau (condimento utilizado para dar cor a comidas.

Ao final, como uma espécie de apresentação do prato, um punhado de cebolinha verde é jogado por sobre a “baciada” saborosa. Este modo de fazer, tomado como exemplo, pode nos levar à reflexão sobre as condições socioeconômicas, intervindo diretamente no resultado do produto, do ponto de vista do seu sabor e da relação custo benefício. Também é importante salientar que este exemplo citado é cada vez mais substituído pelo “quibe frito” e que possivelmente deverá fazer parte apenas dos registros institucionais e da memória dos mais velhos, como dona Terezinha Batista que diz já ter feito muitos “quebes” para auxiliar o marido no sustento da família e que hoje reconhece que este modo peculiar já não é tão apreciado, mas, que um dia o foi.

É dessas memórias que qualquer sociedade precisa pra ser melhor nos aspectos relativos à educação, respeito e valorização dos bens culturais que possui e de seus detentores, os verdadeiros guardiões da memória.


IRINEIDA NOBRE - HISTORIADORA

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