segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Tacacá: “cada cuia é uma história”

Cuida de tacacá servida no Tacacá da Base em Rio Branco



Basta o cheiro diferenciado para denunciar o inconfundível aroma produzido pelo tacacá, um dos pratos mais conhecidos e degustados dentre os milhares produzidos pela gastronomia amazônica. Servido geralmente muito quente o sabor dessa iguaria diverge de tacacazeira para tacacazeira (cebolinha de palha, cebola, coentro do norte e alho e etc, uns mais outros menos), bem como o tempero varia de consumidor para consumidor: sal, pimenta e limão. Alguns preferem com mais e outros com menos goma, folha ou tucupi. E ao pegar a “cuia” para o saboreio o apreciador deve ter muito cuidado para acomodá-la, já que quente e rotunda ela pode facilmente escapar das mãos.

Por outro lado durante a ingestão o apreciador geralmente se delicia com a sensação de dormência provocada nos lábios pelo caldo de tucupi. Alguns também se comprazem com a ardência e queimação provocados pelo molho de pimenta: malagueta, olho de peixe, dedo de moça, amarela comprida e outras, que fazem parte do acompanhamento e completam tempero e saboreio do tacacá, que apesar de reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como um alimento de origem paraense, é consumido praticamente em todos os estados no Norte brasileiro, bem como em alguns de outras regiões do país.

É importante lembrar que no século XIX essa iguaria era consumida preferencialmente em festas e em residências, independentemente da classe social ou da família. E segundo o historiador Aldrin Figueiredo o tacacá vem um universo singular, a pajelança dos indígenas “que iam desde a roupa típica das primeiras tacacazeiras até os locais onde eram encontrados”, sendo que somente a partir do século XX ele passou a ser servido nas ruas e em diversos pontos das cidades.

Mas com o passar do tempo - em seu silêncio e quieto diante das necessidades humanas – o preparo dessa bebida sofreu variações conforme as necessidades e ofertas de cada região em que se produzia e consumia. Hoje, em algumas áreas do Rio Amazonas, o tucupi é fervido no mesmo momento em que é retirado da mandioca. Diferentemente do que acontece no Estado do Acre no qual após sua extração o liquido é colocado para “descanso” por alguns dias, ao modo de que o fermente para aprimorar o gosto. “Além disso, quanto mais urbanizado o local, mais camarão é colocado no tacacá. Em várias regiões, no lugar do camarão é utilizado peixe”, cita Aldrin.

Trazendo para um contexto local, na cidade de Rio Branco, bem como em outras cidades do interior acreano o tacacá além de ser um símbolo regional é uma recomposição urbana, pois não se constitui tão somente em simples alimento, mas numa característica marcante e indistinta que reveste tanto o modo de vida ribeirinho quanto o urbano. Ou seja, dos mais sofisticados restaurantes de Belém até as mais simples barracas e carrocinhas em Rio Branco, oferecem sabores e temperos que se misturam revelando a riqueza gastronômica contida nos modos de ser e de fazer da gente amazônida.



Jefferson Saady Maciel Júnior

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